A educação está passando por um importante período de transformação. Nos últimos dois anos, a maior parte da população teve que adaptar as próprias casas a salas de aula. E um dos principais legados que essa experiência deixou foi mostrar para as pessoas que, mesmo com dificuldades, era possível aprender online. Para se ter uma ideia, a consideração por um curso a distância saltou de 40% em 2020 — antes da pandemia— para 78% em 2021.1
Ao mesmo tempo, a situação econômica do país também traz impactos para o mercado de educação. Observamos uma relação bem direta entre o crescimento do PIB e a aceleração de ingressantes no ensino superior. O ENEM, que já chegou a ter 8,7 milhões de inscritos em 2014, recebeu 3,4 milhões de inscrições para a edição de 2022,2 o que mostra que, apesar de o exame continuar sendo o marco mais importante no calendário de educação, vem perdendo a vocação de acelerar e trazer crescimento.
Isso não significa que a demanda por conhecimento e aprimoramento está menor, mas que a procura por outras possibilidades — para além da graduação— acaba surgindo neste contexto. Quando olhamos para buscas realizadas no Google, por exemplo, termos como “aprender” e “cursos” apresentam uma tendência de crescimento constante, com um aumento de 46% nos últimos quatro anos.3 E, embora o mercado de educação tenha focado por muito tempo na expansão de oferta de vagas no ensino superior, hoje é possível visualizar um universo maior de possibilidades no ecossistema educacional.
Mercado em potencial
Para entender o mercado da educação, fizemos uma pesquisa sobre os interesses das pessoas com o ensino médio completo que ainda não cursaram o ensino superior no país. São mais de 40 milhões de pessoas nessa situação, com potencial de cursar uma faculdade.4
Ao mesmo tempo, somente cerca de 3,6 milhões de pessoas ingressam na graduação por ano.5 O que estão fazendo os outros 36 milhões?
Nossa pesquisa mostra que há uma intersecção de mais de 80% entre o perfil de pessoas que escolhem graduação e outros tipos de formação. Ou seja, quando não têm a oportunidade de fazer o ensino superior, esse público opta por outras formas de ensino — e a digitalização está no centro dessa escolha. Quais são, então, os modelos de negócio que estão conquistando a educação?
YouTube: conhecimento e entretenimento juntos
Todos os dias, as pessoas assistem a mais de 1 bilhão de horas de vídeo no mundo todo.6 E você pode confiar que, no meio dessas horas, há bastante conteúdo de educação sendo visto. Nos 50 maiores canais do YouTube Edu — canal que reúne conteúdos relacionados à educação — são mais de 130 milhões de inscrições.7 Entre os 10 maiores, há desde canais que falam sobre ciências, matemática e educação financeira até aqueles que ensinam a tocar algum instrumento.
Aliás, a mescla de conhecimento e entretenimento tem sido um fenômeno importante, que está criando um novo momento na educação. De acordo com o YouTube Trends, as buscas por “cursos” cresceram 70% só no primeiro semestre de 2022,8 e o tempo que as pessoas passam assistindo a vídeos na plataforma triplicou entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021.9 Ou seja, o YouTube tem se tornado, cada vez mais, uma plataforma que as pessoas usam para aprender algo, em vídeos cada vez mais longos.
A busca por alternativas
Quem nunca tirou uma dúvida de inglês na internet? Pois as buscas por aprendizado de idiomas cresceram mais de 50% em 2021.10 E as plataformas de cursos livres também: o aumento de pesquisas foi de mais de 60% em 2020.11 Esses cursos, que geralmente têm curta duração e são online, expandiram substancialmente durante a pandemia e vieram para ficar.
Outro destaque no mercado de educação hoje são os cursos preparatórios para concursos públicos. As buscas pelas marcas mais relevantes do setor cresceram 4,8 vezes nos últimos cinco anos,12 e os principais sites recebem, em média, mais de 12 milhões de visitas únicas todo mês.13 Uma indicação de que a presença online continua sendo uma grande aliada na divulgação das marcas e dos novos modelos de negócio.
Aplicativos: a nova fronteira educacional
Com o crescimento da utilização do celular no nosso cotidiano, a educação também passou a ser mobile. Os usuários de Android no Brasil passaram mais de 5 horas por dia em aplicativos em 2021.14 Não à toa, somos o segundo maior país em número de downloads de apps e games de educação, ficando atrás apenas da Índia.15
Esta é, portanto, outra potente ferramenta para o mercado de educação no país. Até mesmo as faculdades têm aproveitado esse movimento para lançamentos de apps que oferecem graduação e pós-graduação via celular, como forma de atrair cada vez mais alunos. É inegável como a experiência do estudo tem se expandido desse modo, sendo fortalecida por essas tecnologias.
Educação: um mercado plural
A educação é fundamental para reduzir as desigualdades de oportunidades e para preparar as próximas gerações para melhores condições de emprego e de vida. Alguns dados mostram isso: a taxa de desemprego é quase duas vezes maior para quem não completou o ensino médio.16 Além disso, o curso universitário garante um salário duas vezes maior.17 E a população que tem acesso a mais estudo também pratica mais atividades físicas e se alimenta melhor, o que aumenta a expectativa de vida em cinco anos.18
Não por acaso, a educação é algo que valorizamos: em uma lista das maiores conquistas dos brasileiros, ela ocupa o segundo lugar, ficando atrás apenas do sonho de construir uma família.19
O que percebemos é que as pessoas têm desejado e buscado diferentes maneiras para aprender e se desenvolver, para além da graduação. Com tanto potencial de crescimento, principalmente no digital, sairá à frente quem entender como adaptar os seus modelos acadêmicos às necessidades dos alunos, e souber utilizar as tecnologias emergentes a seu favor para escalar os seus modelos e chegar a mais pessoas.